20171106

O gaúcho que laçou um avião

Euclides Guterres foi um peão gaúcho, nascido na cidade de Santa Maria no Rio Grande do Sul, que se tornou celebridade instantânea  no dia 20 de janeiro de 1952 , quando tinha 24 anos de idade, ao laçar o avião  CAP4 / Paulistinha de prefixo PP-HFP, que estava dando vôos rasantes na fazenda de seu patrão.

Um peão de estância laçar um avião "pelas guampas", em pleno ar, parece lenda, mas é fato. Isso aconteceu em numa fazenda, nas proximidades da Base Aérea de Camobi, em Santa Maria.

O avião, pilotado por Irineu Noal, com histórico de apenas 20 horas de vôo, tinha decolado do aeródromo de Santa Maria com destino à Fazenda de  Cacildo Pena Xavier em Tronqueiras, pai de sua ex-namorada, onde, já terminado seu relacionamento amoroso iria devolver as cartas à ex-namorada, que já estava noiva de outro.

O vôo levou menos de dez minutos para chegar ao destino.
Ao sobrevoar a fazenda, começou a fazer uma série de manobras rasantes próximas à cerca, onde Guterres encontrava-se cuidando de uma novilha doente. O Peão notando que a aeronave  aproximava-se se cada vez mais de onde ele estava e achando que aquilo era brincadeira ou algum tipo de provocação, não teve dúvidas: armou o laço de 13 braças e quatro tentos e o atirou em direção a cabeça do teco-teco, depois de três ou quatro tentativas, conseguiu laçar a aeronave acertando o alvo.

Por estar preso na cincha do arreio sobre o cavalo, o laço, com o impacto, arrebentou na presilha e seguiu pendurado no avião. O piloto, assustado, tratou de pousar na pista da base aérea. Longe do hangar, retirou o laço e o escondeu no meio das macegas. No dia seguinte, um instrutor notou que a hélice do aparelho estava rachada. Pressionado, o piloto confessou o acontecido.

O peão Euclides Guterres, aos 24 anos, autor do feito que repercutiu mundialmente, reprodução da revista O Cruzeiro.

O comandante do aeroclube procurou o jornalista Cláudio Candiota (1922-2012), diretor de A Razão, e contou a história, mas pediu para não divulgá-la, "para não causar prejuízo à imagem do estabelecimento sob sua responsabilidade".

O jornalista comentou: "Não prometo nada, deixa comigo. Vou tornar este aeroclube famoso em todo o mundo". Não só deu a notícia no seu jornal como no Diário de Notícias, de Porto Alegre, como telefonou para a revista O Cruzeiro. Esta, na mesma semana, mandou seu melhor fotógrafo, o gaúcho Ed Keffel, a Santa Maria, onde reconstituiu o episódio e o estampou em cinco páginas, amplamente ilustradas. Com circulação de mais de 700 mil exemplares, a reportagem de Cláudio Candiota repercutiu na imprensa mundial.

"Eu não fiz por maldade, foi pura brincadeira. Para falar a verdade, não acreditava que pudesse pegar o aviãozinho pelas guampas num tiro de laço", confessou Euclides Guterres.

O avião só não caiu porque a hélice  do motor cortou o laço. Mesmo assim ficou danificado, e o piloto Irineu recebeu uma multa e teve seu breve  cassado. Até hoje ele guarda a hélice  da aeronave com o pedaço do laço, segundo matéria do jornal  Correio do Povo de 29 de janeiro de 2007.

Na ocasião, houve registro do fato no Time Magazine, em 11 de fevereiro de 1952 e em outros jornais da época, como A Razão, o Diário de Notícias  e no caderno Almanaque do Correio do Povo. A Base Aérea de Santa Maria  também mantêm em seu acervo vários jornais e revistas da época, relatando a façanha do peão Euclides Guterres, já falecido.
Não existem registros de casos semelhantes.



Post (331) - Novembro de 2017